Há precisamente 118 anos, Clemente Joaquim da Fonseca Guimarães Menéres constituiu a “Sociedade Clemente Menéres, Limitada”.
Esta empresa familiar foi a primeira sociedade de responsabilidade limitada constituída em Portugal no âmbito da exploração agrícola, baseada essencialmente nos produtos: cortiça, vinho e azeite.
Assim, a 18 de dezembro de 1902, o desejo de Clemente Menéres em conservar indivisíveis as propriedades que detinha em Trás-os-Montes, nas quais se incluíam à data, cerca de 200 mil pés de sobreiros, foi concretizado e formalizado.
Este fundo arquivístico encontra-se à guarda do Arquivo Distrital do Porto desde agosto de 2018 através da celebração de um contrato de depósito. Com datas extremas até 1974, contém documentação administrativa e financeira produzida e acumulada no decurso da sua atividade diária, ainda hoje ativa.
» CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE
Escritura de constituição da “Sociedade Clemente Menéres, Limitada”
PT/ADPRT/NOT/CNPRT07/001/0778/00943
Primeiras folhas do ato de registo da sua fundação, lavrado no 7.º Cartório Notarial do Porto a 18 de dezembro de 1902, nas quais podemos verificar os seus fundadores e objetivos.
» QUINTA DO ROMEU
Instruções ao Feitor Geral dos Serviços Agrícolas Luís Pinto de Mesquita
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/007/0592
Os encarregados dos trabalhos rurais tinham funções bem delineadas. Estas atribuições foram remetidas a 3 de março de 1907.
A coordenação dessas tarefas com os trabalhadores a seu cargo na Quinta do Romeu e a comunicação das mesmas à gestão desta Sociedade eram uma constante diária e fulcral para o sucesso dos negócios.
Carta da gerência endereçada ao Sr. Margarido
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/006/0122
Comunicação interna de 12 de fevereiro de 1906 enviada para Mirandela, solicitando a verificação da quantidade e qualidade da cortiça nos sobreirais para posterior envio das mesmas aos seus clientes.
Mais um exemplo da importância das informações quotidianas e da organização demonstrada pela Sociedade para a prossecução da sua atividade comercial.
Comunicação diária enviada pelo encarregado Fernando Pinto
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/012/0750
“Parte diária” da Secção Rural enviada por Abel Pereira
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/012/0751
Informações diárias detalhadas remetidas pelos responsáveis do trabalhos rurais, datadas de 3 de abril de 1939 e 2 de dezembro do mesmo ano, respetivamente.
A notificação desses serviços agrícolas era uma prática obrigatória e indispensável ao seu eficaz funcionamento.
Carta da gerência endereçada ao Feitor Geral dos Serviços Agrícolas
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/009/0192
Comunicação interna datada de 9 de dezembro de 1947, informando sobre os diversos assuntos pendentes e/ou resolvidos. Outro exemplo do planeamento verificado ao longo dos anos.
» LINHA FERROVIÁRIA DO TUA
Tabelas quantitativas de sobreiros existentes nos terrenos expropriados enviadas pela empresa “Lopes da Cruz“
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/014/0737
Correspondência recebida da empresa construtora da linha ferroviária de Mirandela a Bragança, datada de 31 de julho de 1905, remetendo junto quadros ilustrativos da quantidade de sobreiros que foram cortados, ou poupados, na sequência da expropriação de algumas terras no Romeu para a construção da linha do Tua.
Carta recebida da “Companhia Nacional de Caminhos de Ferro”
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/014/0741
Comunicação sobre o desvio de água para a fábrica de cortiça de Mirandela, eventuais indemnizações do abate de sobreiros e vedações necessárias construir para a delimitação e segurança dos terrenos da Sociedade nos quais passa a linha de comboio de Mirandela a Bragança, recebida a 23 de agosto de 1906.
» FÁBRICAS DE CORTIÇA (Mirandela e Porto)
Regulamento da Fábrica de cortiça em Mirandela
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/007/0592
Minuta do regulamento da fábrica de produção de rolhas e de preparação da cortiça, elaborada em setembro de 1907. Esta unidade fabril estava apetrechada com máquinas e pessoal especializado, mas encerrou em 1913.
Tabelas de produção da Fábrica de cortiça no Porto
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/013/0782
Quadros representativos da produção de rolhas feitas à mão e à máquina por cada funcionário, datados de 30 de março de 1912. A legalização definitiva desta fábrica realizou-se a 18 de agosto de 1914.
» O CONVENTO DE MONCHIQUE E AS PROPRIEDADES TRANSMONTANAS
Registos de rendas das propriedades no antigo Convento de Monchique
PT/ADPRT/EMP/SCM/B/007/0356
A 24 de fevereiro de 1908, o capital social desta Sociedade foi aumentado com a integração desta propriedade. Estes registos das rendas de diversos inquilinos, datados de dezembro de 1952, demonstram que este imóvel desde a sua aquisição, para além de funcionar como escritórios da empresa no Porto, era uma fonte de rendimento muito significativa.
Registos de propriedades arrendadas em Trás-os-Montes
PT/ADPRT/EMP/SCM/B/007/0352
Uma outra fonte de receita desta Sociedade eram os terrenos transmontanos arrendados. Na tabela de janeiro de 1940, podemos observar alguns elementos informativos como: arrendatários, sua localização, nome da propriedade, prazo, compensação e data de pagamento.
Inventário de propriedades em Trás-os-Montes
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/008/0642
Este levantamento resumo datado de 12 de janeiro de 1940, é ilustrativo da extensão de terrenos agrícolas que esta Sociedade possuía e o impacto territorial que representa no solo e nas gentes transmontanas.
» RELAÇÕES COMERCIAIS
Carta recebida da empresa “Manoel José Fernandes" e respetiva amostra de cortiça em rolo
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/004/0723
Comunicação datada de 20 de fevereiro de 1914, remetendo junto uma amostra de cortiça “em bovinas", solicitando a análise do seu possível fabrico e comercialização.
Cartas enviadas às empresas: “J. E. Roura” e “Augusto de Carvalho & Ca.”
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/005/0164
Comunicações exemplificando a comercialização dos seus produtos em Portugal: venda de cortiça para empresa de Lisboa e compra de vinho para firma do Porto, expedidas a 9 de fevereiro de 1916 e 13 de abril do mesmo ano, respetivamente.
Carta recebida da empresa “Manoel José Fernandes" e respetiva amostra de rolha
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/001/0392
Comunicação de 7 de março de 1916, remetendo uma amostra para eventual pedido.
Carta recebida da empresa “Nettos & Ca., Lda." e respetiva amostra de rolha
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/001/0407
Comunicação datada de 19 de junho de 1918, com pedido de exportação de várias unidades da qualidade de amostra e também de vinho do Porto para Benguela, Angola.
Carta enviada para a empresa “H. zum Hingste & Co.”
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/005/0213
Comunicação expedida a 15 de novembro de 1921, informando do peso e número de fardos de cortiça embarcados no barco com destino a Bremen, Alemanha.
» FORMAÇÃO
Desenhos de ramos de oliveira e fotografias de sobreiros e oliveiras do relatório de curso de Manuel Pimentel
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/011/0779
Desenhos das variedades de oliveiras existentes em terras transmontanas [2 de 5 espécies] e algumas imagens dos sobreirais e olivais no Romeu, ilustrativas do trabalho desenvolvido por Manuel Rui Araújo de Meneses Pimentel do Curso de Regente Agrícola da Escola de Coimbra (1956-1958).
» BENFEITORIAS REALIZADAS PELA FAMÍLIA MENÉRES
Memorando da Secção Rural e respetivas amostras de tecidos
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/008/0695
Comunicação interna de 4 de outubro de 1907, enviando várias amostras para a confeção de fatos da Consoada no Romeu.
Carta recebida da empresa “H. zum Hingste & Co.” e respetivas amostras de tecidos
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/001/0427
Comunicação de novembro de 1921, contendo amostras de tecido para a realização de alguns fatos para a Consoada dos trabalhadores rurais da Sociedade.
Carta da gerência ao Feitor Geral do Serviços Agrícolas e respetivas amostras de tecidos
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/008/0667
Comunicação interna de dezembro de 1948, incluindo várias amostras de tecidos de fazenda, para a confeção de roupa a utilizar na Consoada no Romeu.
Carta enviada ao pároco da freguesia de Aguieiras e relação das freguesias contempladas
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/009/0225
Em cumprimento do testamento de Clemente Menéres, foram enviadas cartas para as freguesias dos diversos concelhos do distrito de Bragança nas quais a Sociedade possui sobreiros, solicitando aos diversos responsáveis das paróquias, o envio de uma relação de pobres necessitados.
Exemplo de uma carta da gerência remetida em março de 1917, ao pároco de uma das freguesias do concelho de Mirandela, e lista das freguesias e respetivos concelhos para as quais foram enviadas cartas semelhantes. Após a análise das mesmas, foi entregue, durante vários anos, uma ajuda financeira no dia de aniversário do falecimento do fundador.
Carta do escritório endereçada a José da Fonseca Menéres e Carta da gerência enviada a Francisco Lopes Seixas
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/009/0173
Comunicações internas respeitante ao seguro da “Escola Clemente Menéres” e algumas instruções a dar à professora sobre as inscrições na referida escola, datadas de 14 de outubro de 1925 e 25 de fevereiro de 1926, respetivamente.
Memória descritiva e peças desenhadas do projeto de estrada no Romeu
PT/ADPRT/EMP/SCM/A/011/0785
Documentos integrantes do projeto de pavimentação da estrada entre o armazém da Sociedade na estação ferroviária e as suas propriedades, submetido a 28 de maio de 1935. Este traçado beneficiou também a própria aldeia de Romeu.
CONCLUSÃO
A Sociedade Clemente Menéres, Limitada é o retrato vivo de que a produtividade da terra aliada à força de trabalho das suas gentes, fazem de negócios particulares de índole geográfica, entidades comerciais à escala mundial.
Esta empresa familiar é o reflexo de quem soube se adaptar ao longo dos anos a diversas conjunturas e vicissitudes. Entre elas: a exploração de solos e clima específicos com a exportação e escoamento atempado; a análise de técnicos especializados nas diversas áreas de cultivo com o emprego de recursos humanos locais melhorando as suas condições de vida; o saber balancear a produtividade e tempos de cultivo com a rentabilidade dos diversos tipos de produtos, transformando assim dificuldades em oportunidades qualitativas.
Através do tratamento técnico arquivístico realizado a esta documentação, conseguimos verificar que o real impacto que as empresas têm no território onde estão inseridas é a riqueza efetiva que uma entidade comercial pode alcançar. E o seu poder económico e social aliado à sua história, é o seu verdadeiro futuro… com memória.